quarta-feira, 8 de setembro de 2010

ah...


RELAXE. NÃO LUTE. ACEITE.



Se o zen é o caminho da entrega, por que o ensinamento básico de Buda é "seja uma luz para si mesmo"?


A entrega essencial acontece dentro de você, nada tem a ver com alguém de fora. A entrega essencial é um relaxamento, uma confiança — não deixe se enganar pela palavra.


Em termos lingüísticos, entregar-se significa render-se a alguém, mas, em termos religiosos, significa simplesmente confiar, relaxar. É mais uma atitude que um ato — você vive por meio da confiança.


Deixe-me explicar. Você nada na água — vai até o rio e nada. O que acontece? Você confia na água. Um bom nadador confia tanto que quase se une à água. Não luta contra ela, não a agarra, não fica duro e tenso.


Se ficar duro e tenso, você se afogará; se ficar relaxado, o rio cuidará de tudo. É por isso que, quando alguém morre, o corpo flutua na água. Isso é um milagre.


Incrível! A pessoa viva se afogou e morreu no rio, e a pessoa morta simplesmente flutua na superfície. O que acontece? O morto sabe segredos sobre o rio que o vivo não sabia. A pessoa viva estava lutando. O rio era o inimigo. Ela tinha medo, não conseguia confiar. Mas, sem estar lá, como a pessoa morta poderia lutar? Ela está totalmente relaxada, livre de tensões, e de repente o corpo vem à tona. O rio cuida agora. Nenhum rio pode afogar uma pessoa morta.


Confiar significa não lutar; entregar-se significa não pensar na vida como o inimigo, mas como o amigo. Quando você confia no rio, de repente começa a se divertir. Surge imenso prazer — você nada, apenas bóia ou mergulha fundo. Mas não está separado do rio — vocês se fundem, tornam-se um.


’Entregar-se’ significa viver da mesma maneira que um bom nadador nada no rio. A vida é um rio. Você pode lutar ou flutuar; pode resistir ao rio e tentar nadar contra a correnteza ou flutuar com ele e ir aonde ele o levar.


Não se trata de ‘entregar-se a uma pessoa’; é simplesmente um modo de vida. Não é preciso um Deus a quem se entregar. Há religiões que acreditam em Deus, há outras que não acreditam, mas todas acreditam na ‘entrega’. Portanto, a entrega é o verdadeiro Deus.


O próprio conceito de Deus pode ser descartado. O budismo não acredita em nenhum Deus, o jainismo também não — mas são religiões. O cristianismo acredita em Deus, o islamismo acredita em Deus, o sikhismo também acredita — e também são religiões.


O cristão prega a ‘entrega a Deus’ — Deus é apenas uma desculpa para você se entregar. É uma ajuda, pois é difícil se entregar sem um objeto. O objeto é apenas uma desculpa para que, em nome de Deus, você se entregue.


O budismo diz simplesmente: ‘Entregue-se’ — não há um Deus. Relaxe. Não há a necessidade de um objeto, é tudo uma questão de subjetividade. Relaxe, não lute. Aceite.


A crença em Deus não é necessária. Na verdade, a palavra "crença" é feia. Não demonstra confiança, não demonstra fé — crença é quase o posto de fé. A palavra "crença" em inglês — belief — vem da raiz arcaica lief, que significa desejo, desejar.


Deixe-me explicar. Você diz: "Acredito no Deus misericordioso". O que está dizendo exatamente? Está dizendo: "Gostaria que existisse um Deus que fosse misericordioso". Quando diz: "Acredito", está dizendo: "Desejo intensamente".


Mas você não sabe.


Se você sabe, não é uma questão de 'acreditar'. Você ‘acredita’ nas árvores? ‘Acredita’ no sol que nasce todas as manhãs? ‘Acredita’ nas estrelas? Não é uma questão de crença. Você sabe que o sol está lá, que as árvores estão lá. Ninguém ‘acredita’ no sol — se acreditasse, você diria que é louco.


Se alguém lhe dissesse: "Acredito no sol", e tentasse convertê-lo a acreditar, você diria: "Você está louco!"


Osho, em "A Música Mais Antiga do Universo"


Colaboração e edição (os grifos são nossos): Master

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