quarta-feira, 1 de junho de 2011

a arte de não fazer nada - DOIS

(continuação)



Anthar - Dando continuidade ao tema central: ‘A Arte De Não Fazer Nada’, hoje Veronique nos fala da arte de respirar. Alguém já havia pensado em que este ‘ato mecânico’ pudesse ser uma arte?


Pois é.


A ARTE DE RESPIRAR

“Birds do it...” cantarolava Cole Porter. Os pássaros fazem. “Bees do it”. As abelhas fazem. A gente faz: exalamos e liberamos para a atmosfera dióxido de carbono, um elemento que promove o crescimento das plantas e impede a radiação solar de retornar ao espaço. Com a nossa respiração, preservamos o planeta de se tornar um deserto.


Anthar – Simplesmente respirando. Simplesmente...Tudo é sempre muito simples.


Aparentemente , uma de nossas funções na Terra é a de jardineiros – guardas involuntários de um frágil ecossistema. Podemos até causar estragos no ambiente, de outras formas, mas quando esvaziamos os pulmões ajudamos a grama a ficar mais verde.


Por alguma razão, na nossa cultura, existe muito mais ênfase na inspiração do que na expiração. Enquanto associamos o ‘receber oxigênio’ a fazer ‘algo bom e útil' para nós mesmos, exalamos dióxido de carbono clandestinamente, quase como se estivéssemos ‘levando o lixo para fora’, rápido, de nariz tapado e boca aberta.


Sempre com pressa, quase não sentimos prazer em relaxar o peito, limpar nossas vias respiratórias e enviar algum gás carbônico sem cor para a imensidão azul.


Para respirar profundamente e sem esforço,não espere para exalar. Pense em respirar como uma ‘doação’, não como um recebimento. Apenas diga a você mesmo que vai encher os pulmões de modo a expelir o máximo de ar possível. Não seja pão-duro, doe um grande suprimento de dióxido de carbono. Faça a parte que lhe cabe, na promoção da fotossíntese.


Mentalize uma das suas arvores favoritas e dê às suas folhas a oportunidade de produzir algum oxigênio classe A, do tipo ‘top de linha’.


Antes mesmo de você perceber, seu peito incha, sua caixa torácica se alarga e seus ombros relaxam. No exato momento em que você acha que a sua câmara pulmonar está lotada, os lobos na parte posterior se abrem como pequenos pára-quedas. É o êxtase mais fácil que você experimentou nos últimos tempos – mas não é nada comparado com aquele delicioso sentimento de se ‘afundar’ enquanto respira.


Poucas coisas na vida dão tanto prazer quanto esse longo e suave mergulho na serenidade.


É mais sábio não forçar a respiração profunda: o mecanismo involuntário que regula a troca de elementos químicos entre o nosso sangue e a atmosfera é disparado por uma série de respostas neurológicas muito complexas, tanto para estímulos externos quanto internos. Os controles centrais da respiração estão no cérebro , ou seja, é mais simples alterar o modo como pensamos sobre o ato de respirar do que forçar a caixa torácica a se expandir.


Está tudo na sua cabeça.


Imagens mentais afetarão muito mais seus padrões de respiração do que cargas de abdominais, contrações do diafragma, exercícios de ioga ou aquelas inalações de oxigênio que viraram moda certo tempo atrás.


Quando você dá um suspiro de alivio, é o seu corpo que sorri.


Prestar atenção na respiração é como percorrer uma corda bamba que liga nossa mente consciente ao universo inconsciente. Tente fazê-lo e experimente a inebriante vertigem da atenção. Mas vá com calma: não é fácil permanecer no aqui e agora da autopercepção.


• Fique ao lado da janela e olhe para o horizonte para diminuir as distrações visuais.


• Repare como as suas duas primeiras respirações são superficiais – mas resista à tentação de aumentar o volume de ar que inspira.


• Suas próximas inspirações serão provavelmente mais profundas. Como uma série de suspiros involuntários. É o que se chama de prana, em sânscrito e pneuma em grego – a impressão de que o Universo respira através de você.


Assim que inspirar pela quinta ou sexta vez, sua mente vai começar a vaguear. Não se preocupe. Deixe a ausência de formas dos seus pensamentos preencher o vazio do seu peito.


• Não espere o êxtase da autoconsciência já na sétima ou oitava inspiração. Assim como respirar, a autoconscientização é um processo de ser e não ser. Nós inalamos e exalamos. Do mesmo modo que lembramos e esquecemos.

Extrato.


INSPIRE-SE – UMA RESPIRAÇÃO DE CADA VEZ.

(continua)